Quem são os “homens hediondos”? Criaturas feias, repugnantes, monstruosas? Ou pessoas banais com quem nos relacionamos todos os dias, no trabalho, nos transportes, nos cafés, em casa? Essa imensa maioria que perpetua os mesmos comportamentos e relações de poder, e cuja violência muitas vezes aceitamos em nome da “estabilidade” e do “nosso estilo de vida”. A nova criação de Patrícia Portela, um solo interpretado por Nuno Cardoso, parte do livro Breves Entrevistas com Homens Hediondos (1999), do escritor norte-americano David Foster Wallace, para nos confrontar com aqueles momentos em que somos apanhados a tolerar um sistema que tão ativamente condenamos. Recorrendo às “capacidades metamórficas e camaleónicas de Nuno Cardoso”, a dramaturga faz desfilar vários monólogos de personagens masculinas que se vão transformando em “homens cada vez mais hediondos”. Até que ponto seremos capazes de reconhecer nestas histórias a nossa própria história?