Escola de Mulheres
É inerente a um texto teatral radiofónico uma invisibilidade de partida, com o repto ao conjunto de ouvintes de imaginar livremente os acontecimentos que ouvem e os ambientes descritos, e de associar figuras às vozes que escutam. Esta encenação articula essa dimensão com o desafio de paradoxalmente dar a ver algo que deveria ser imaginado por quem ouve, numa perspetiva de desdobramento de sentidos e estabelecendo outras ligações. Quer-se estimular o imaginário de quem assiste e escuta, e a ação cénica não se circunscreve a uma representação do texto, extrapolando este

para a criação de outros momentos performativos. Uma outra vertente assenta na manipulação de diferentes materiais para a produção de sons em direto, inspirada pela prática dos artistas de Foley que geram e recriam sons para produções audiovisuais.

“A Companhia dos Lobos” é um texto de Angela Carter inspirado em Capuchinho Vermelho, mas com um olhar feminista sobre o conto de fadas. A autora contraria as representações repressoras do papel das mulheres. No seu texto, associa a defesa da emancipação das mulheres e da sua sexualidade à dualidade humana e animal, com a importância de responder ao instinto e ao desejo, e acenando a um triunfo simbólico da natureza sobre a crença de pendor religioso.

Nesta produção da Escola de Mulheres, “A Companhia dos Lobos” torna-se um espetáculo para ver com todos os sentidos. Vai da transmissão sonora ao espaço cénico, e passa pela imagem filmada, amplificando a sucessão de histórias que são contadas na peça radiofónica.  Na abordagem lúdica do espetáculo ecoa a fantasia e o humor que embalam a visão crítica de Angela Carter.