Sinopse do Espetáculo
de Augusto Abelaira encenação de Cristina Carvalhal
Direcção Cristina Carvalhal
Elenco Alberto Magassela, Benedita Pereira, João Grosso, José Neves, Manuela Couto, Marco de Almeida, Sandra Faleiro, Tomás Alves e dois actores estagiários a definir
Cenário e Figurinos Nuno Carinhas
Luz Rui Monteiro
Som Sérgio Delgado
Produção Rita Faustino e Beatriz Cuba
Co-produção Causas Comuns e Teatro Nacional D. Maria II
Uma nave que viaja no tempo é o mecanismo que Abelaira usa para construir uma comédia plena de absurdos, publicada pela primeira vez em 1962. Os planos privado e público cruzam-se, numa crítica a uma sociedade patriarcal, profundamente machista, hierarquizada e desigual.
A acção começa no século XXIII, passa pela revolução francesa, pela Guerra de Tróia, e volta ao tempo futuro inicial, com o “mundo ao contrário”, pois os passageiros da nave, em nome de interesses amorosos e financeiros, alteraram o passado, fazendo com que os gregos percam a guerra. E no entanto, nada muda realmente, e ninguém sai incólume, nesta fábula que ridiculariza uma sociedade que prefere alterar o passado com medo de alterar o presente.
Cinquenta anos passados sobre o 25 de Abril, assistimos a um crescimento da extrema direita em Portugal, com forte representação parlamentar. As vozes mais liberais, em termos económicos, e conservadoras em termos de organização societária, ganham força. Neste contexto, uma revisitação crítica deste texto, escrito em pleno Estado Novo, nos inícios da guerra colonial, ganha novas ressonâncias e pertinência no presente que vivemos.
Interessa-nos trabalhar essas ressonâncias, o que passará desde logo pelo questionamento do título, por cortes cirúrgicos, a mudança de género de duas personagens e a reescrita de algumas partes, de forma a enfatizar algumas notas contemporâneas, já contidas no texto, nomeadamente sobre descolonização, feminismo, poliamor, e outras, onde se incluem referências metateatrais.