De uma rara luminosidade, a obra da dinamarquesa é um constante sonho difuso tornado realidade. Imaginando interseções invulgares e sedutoras, cada elemento emerge de uma ordem natural nem sempre lógica, mas invariavelmente intuitiva. Suspensão de expectativa que abre caminho a uma valiosa qualidade revelatória, tão presente e tão vital.

Seja por uma simples linha melódica ou até mesmo de um breve silêncio que irrompe num manto de retalhos rítmicos, parece existir matéria e fantasia onde não julgaríamos. Exemplar num trabalho de composição angular e amplo, nele ecoa um psicadelismo balsâmico que tanto se reconhece na folk mais sonhadora como se manifesta em complexas expressões sensoriais.

Livre nessas linguagens múltiplas, faz uso da guitarra com parcimónia e detalhe enquanto a voz projecta um magnetismo familiar, envolvente e por vezes conscientemente lacónico. Encontrando improvável conforto nessas nuances, descortina espaços incógnitos, porém prolíferos.

Ainda com Suntub bem presente na memória colectiva, estreia-se em Lisboa em duo, ao lado do multi-instrumentista Oliver Laumann. Vê-la em palco é sinónimo de assistir a um repertório mutável à imaginação de uma artista cuja identidade continuamos a descobrir. Estrela cadente que pousa por uma noite junto ao Tejo, sem sabermos quando será um próximo avistamento.

A abertura deste serão fica entregue a Adriana João que nos últimos anos tem cruzado métodos e expressões multimédia, criando performances únicas e surpreendentes. Ocasião oportuna para testemunhar, no centro da pista do B.Leza, uma agitadora nata que tem assinado um já extenso corpo de trabalho, merecedor de atenção e acompanhamento futuro.