Sinopse do Espetáculo
Pedro Burmester
Variações Goldberg, de J.S. Bach
A volta genial de Pedro Burmester às Variações Goldberg acontece como o de um sábio preparado para regressar a casa. A magnífica obra de Bach encontra agora o pianista numa interpretação que só pode fazer quem maturou e já atravessa o monumento musical em pura intuição. Se alguma coisa imediatamente nos chamava atenção no gesto de Burmester para com esta obra era a abertura dos tempos, uma permissão que levava o intérprete a instalar climas verdadeiramente distintos na partitura que, sendo uma, é necessariamente um objeto múltiplo, convocando cânones díspares e estados de espírito até contrastantes. Pois, avançando em relação à gravação dos anos de 1990, o gesto de Burmester é ainda menos rígido, diria que fluído, num ímpeto liberto que apenas os que sabem podem dominar sem se perderem. O espanto da primeira gravação redobra agora. E julgo que o ponto fundamental está na intuição, o modo como a obra se transforma num corpo que apenas os melhores podem domesticar. Neste sentido, estas Variações vêm às mãos de Burmester como um animal de carinho, amante, e escutam-se com a mesma paixão com que se toca alguém.
Valter Hugo Mãe